Romantismo

Romantismo

A escola nasceu das necessidades de um século de grandes modificações (2º metade de século XVIII e a metade do século XIX).

  1. Romantismo em Portugal

Contexto histórico.

Embora tenha iniciado na Alemanha, com Goethe, o Romantismo tem relação íntima com a Revolução Francesa, que derrubou o absolutismo, transferindo o poder para a burguesia. A Revolução Francesa nasceu do desejo de romper dos senhores, em oposição ao servilismo do povo. Lutava-se por uma sociedade que respeitasse os direitos individuais, e Liberdade, Igualdades e Fraternidade era o lema que ecoou pelo mundo inteiro. Como consequência dessa luta, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e do Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional da França, estabelecia em seu artigo primeiro que os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos: as diferenças sociais só podem ser fundamentadas no bem comum. Com a queda do absolutismo, surgiu o liberalismo, que assegurava a liberdade individual e preconizava oportunidades iguais para todos, ou seja, uma filosofia que se fundamentava na crença da capacidade individual do homem. Essas ideias percorreram todo o mundo, influenciando muitos de racionalismo e objetividade que vigorava até então. Foi nesse contexto que surgiu o Romantismo, opondo-se aos valores do Arcadismo e modificando as manifestações artísticas. A palavra-chave desse período foi liberdade, que ocorreu no campo político pela superação do absolutismo; no campo econômico pelo surgimento do liberalismo; no campo artístico pela rejeição aos padrões clássicos. A burguesia, que ascendia ao poder, não tinha os mesmo gosto e os mesmo interesses que os nobres. E as camadas populares, que apoiavam o processo revolucionário, não tinham o mesmo preparo intelectual para assimilar a erudição clássica das artes. Segundo João Domingues Maia, o espírito literário que marcou a Revolução Industrial (1760 – 1850) e a Revolução Francesa (1787 – 1789) irradiou-se para outros continentes e encontrou solo fértil nas colônias espanholas da América.

Comparação do Romantismo e o Neoclassicismo.

 

Neoclassicismo XVII

Romantismo XIX

Predominação da razão e da Inteligência.

Predominação da emoção e da sensibilidade.

Objetivismo, ciência.

Subjetivismo, intuito e fantasia.

Termos pagãos e clássicos.

Termos cristão e nacional.

Volta à cultura grega latina.

Volta à cultura medieval.

Arte voltada para a elite.

Arte voltada para o povo.

Rigor formal e imitação.

Liberdade criadora e originalidade.

Visão universal; o outro.

Visão individual; o eu.

Predomínio da metonímia.

Predomínio da metáfora.

Equilíbrio e serenidade.

Instabilidade e exuberância.

Amor e mulher idealizados racionalmente.

Amor e mulher idealizados sentimental e subjetivamente (mulher perfeito, pureza).

 

 

 

Geração do romantismo em Portugal.

O movimento romântico português durou quatro décadas e teve três períodos diferentes, cada um com uma geração particular de autores.

 

  1. Primeira geração.

Empenhada em implantar o Romantismo em Portugal, apresenta ainda influência neoclássica e certa preocupação com questões históricas e políticas. Entre seus autores, destacam-se João Almeida Garret e Alexandre Herculano cujas produções tendem a subjetivismo extremo, ao medievalismo, ao nacionalismo e a idealização da mulher.

Características da primeira geração

  • O lirismo.
  • O subjetivismo.
  • O sonho, o exagero, a busca pelo exótico e pelo inóspito.
  • O nacionalismo, presente da coletânea de texto e documentos de caráter fundacional e que remetem para o nascimento de uma nação, fato atributo a época medieval.
  • A idealização do mundo e da mulher e a depressão por essa mesma idealização não se materializa, assim como a fuga da realidade e o escapismo. A mulher era uma musa, ela era amada e desejada, mas não era tocada.

 

  1. Segunda geração.

Consolidação do movimento romântico em Portugal. Caracteriza-se pela ideia “mal do século”, negativismo, morbidez e sentimentalismo exagerado. O principal autor dessa tendência é o romancista Camilo Castelo Branco, autor de estilo posicional e pitoresco.

Características da segunda geração

  • O pessimismo e certo gosto pela morte.
  • Religiosidade.
  • Naturalismo.
  • A mulher era alcançada, mas a felicidade não atingida.

 

  1. Terceira geração.

Livre dos exageros ultrarromânticos apresenta espontaneidade lírica e musical. Sobressai-se nesse período a prosa de Júlio Dinis.

Características da terceira geração

  • A fase de transição para a outra corrente literária, o realismo, mesmo que o faça de forma enfatizada e irônica, com revelam fragilidade.
  • A mulher idealizada e acessível.
  • Individualismo - os românticos libertam-se das necessidades de seguir formas reais de intuito humano, abrindo espaço para a manifestação da individualidade, muitas vezes definidas por emoções e sentimentos.
  • Subjetivismo - trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo.
  • Idealização – empolgados pela imaginação, o autor idealiza temas exagerado em algumas de suas características. Dessa forma a mulher é vista como um virgem frágil, o índio é visto como heróis nacionais e a noção de pátria também são idealizados.
  • Sentimentalismo exacerbado – expressa a emoção, o sentimento do autor, sendo os mais comuns à saudade, a tristeza e a desilusão. Emoção acima de tudo.
  • Egocentrismo – o ego no centro de tudo, um subjetivo muito exagerado.
  • Natureza interagindo com o eu lírico – a natureza no romantismo, expressa aquilo que o eu lírico está sentido no momento narrado. A natureza interage com o eu lírico e funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito do poeta.
  • Grotesco e sublime – há a fusão do belo e do feio. Exemplo, o conto de “A bela e a fera”, dos irmãos Grimm, no qual uma jovem idealizada se apaixona por uma criatura horrenda.
  • Medievalismo – alguns românticos se interessavam pela origem de seu povo de sua língua e de seu próprio país. Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel á pátria um ótimo modo de retratar as culturas de seu país. Esses poemas se passam em eras medievais e retratavam granes guerras e batalhas
  • Byronismo – baseada na vida e na obra de Lorde Byron, poeta inglês. Estilo de vida boêmio, voltada para vícios, bebidas, fumos; podendo estar representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela angústia.

 

  1. Romantismo no Brasil.

Contexto histórico.

A vinda familiar real para o Rio de Janeiro, em 1808, provocou uma série de mudanças que contribuíram para o bom funcionamento de máquina administrativa: os portos são abertos ao comércio internacional, funda-se o Banco do Brasil, criam-se os tribunais das Finanças e da Justiça, permite-se o funcionamento de toda espécie industrial, fundam-se a Academia Militar e a Academia de Cirurgias, cria-se o curso de Direito, inaugura-se a Biblioteca Real e a imprensa é definitivamente implantada. O desenvolvimento da Nação resulta em nossa independência, em 1822. No Brasil, esse movimento foi particularmente importante pela valorização da cultura nacional e, consequentemente, pelo surgimento de alguns elementos que caracterizam a literatura brasileira.

                Prosa Romântica.

Antes do Romantismo, excluindo as novelas de cavalaria (da Idade Média, que tinha como assunto as aventuras de cavaleiro medieval), o romance histórico e o picaresco (do Romantismo), as histórias eram contadas pelas epopeias. Essa espécie literária constitui-se de uma longa narrativa, de caráter heroico e grandioso, que apresenta uma atmosfera maravilhosa e reúne mitos, heróis e deuses. É escrita em verso e se estrutura dentro de padrões e elementos estabelecida pelo Classicismo.

As epopeias mais conhecidas são a Ilíada e a Odisseia, do grego Homero; Eneida, do romano Virgílio; Os Lusíadas, do português Camões.

Com o advento do Romantismo e da consequente liberdade formal, surgiu o romance (narrativa que pretende apresentar uma visão de mundo por meio do conflito de personagem), sendo A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo (1844), o primeiro romance brasileiro com valor estético.

Didaticamente, são as seguintes as datas limítrofes do Romantismo no Brasil:

1836 – publicação de “Suspiros poéticos e saudades”, de Gonçalves de Magalhães, em cujo prefácio encontram-se algumas das diretrizes da nova estética.

1881 – Publicação de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, romance realista de Machado de Assis, e “o mulato”, romance naturalista de Aluísio Azevedo.

O romantismo brasileiro nasceu pela influência francesa, porque na França estudaram muitos dos nossos escritores; entre eles, além de Gonçalves de Magalhães, Torres Homem, Araújo Porto Alegre e Pereira da Silva, que, com o primeiro, fundaram a “Niterói – Revista Brasileira”, na qual se encontram também algumas ideias que serviram de base ao Romantismo brasileiro.

O romantismo brasileiro revestiu-se de um expressivo cunho nacionalista. A independência, conquistada em 1822, reforçou a busca de elementos caracterizadores e diferenciadores de nossa nacionalidade.

Por sermos uma nação jovem e não possuirmos, ao contrário do europeu, um passado medieval fomos buscar no índio o símbolo da raça brasileira – virtudes do homem nacional, o elemento de autoafirmação e, de certo modo, de oposição do português.

Outro elemento de identificação nacional foi à linguagem. Nos períodos anteriores, os escritores brasileiros mantiveram-se presos aos modelos portugueses. No romanceiro, e, sobretudo com José de Alencar, a linguagem procura o elemento nacional: incorporam-se regionalismo, temos indígenas, expressões e denunciando do feitio nacional.

Foi apenas a partir de 1860, com Castro Alves, que a poesia voltou-se para a realidade política e social, ligando-se às lutas pelo abolicionismo e denunciando o choque entre os símbolos e a realidade social.

O romance foi sofrendo modificações com o passar do tempo e hoje apresenta inúmeras variações e tipos. Mas, no início, ele apresenta os seguintes traços:

  • Características do romantismo.
  • Personagens lineares, estereotipado, previsíveis.
  • Estrutura narrativa baseada no esquema.

 

  • Características do romantismo;

      Atenção: não se deve resumir o conceito de romantismo só aquilo que é triste e melancólico.

  1. Individualismo e subjetivismo.

Em oposição ao universalismo objetivista dos clássicos, os românticos veem o mundo unicamente através do seu mundo interior. A 1º pessoa (eu) é constante na poesia romântica.

 

  1. Nacionalismo.

O nacionalismo romântico não deixa de ser uma espécie de individualismo, mas de âmbito coletivo, em oposição ao universalismo clássico. E é decorrente das profundas transformações política e sociais que redefiniram fronteiras e propiciaram a independência de alguns países.

Relacionados ao nacionalismo (e também à evasão romântica) estão:

  • O culto da Idade Média pelos europeus, na qual se encontram os elementos formados da nacionalidade de cada povo: os heróis das cruzadas, as damas, os monges, as lendas, crenças e tradições.
  • O indianismo, que, no Brasil, devido à ausência de um passado medieval, foi um dos elementos de sustentação do sentimento nacionalista, acentuado com a proximidade da independência.
  • O culto a natureza, que, supervalorizada pelos românticos, não só constitui um refúgio não contaminado pela sociedade, como também uma forma de exaltação da terra brasileira. O indianismo e o “mito do bom selvagem” de Rousseau associam-se a esse culto, pois, em oposição ao homem corrompido pela sociedade, tinha-se outro, em estado natural; o índio simples e bom.

Ao contrário do Arcadismo, em que a natureza é apenas decorativa, para os românticos ela é fonte de inspiração e está intimamente vinculada aos sentimentos dos poetas.

 

  1. Evasão (ou escapismo).

Resulta do conflito do eu com a realidade, o que leva o romântico a esvaziar-se na aspiração por outro mundo – situado no tempo (passado ou futuro) e no espaço (paisagens novas, primitivas ou exóticas) –, onde ele não encontre as dificuldades da realidade próxima a que está vinculado.

Quase todas as características da estética romântica estão subordinadas a essa ânsia de fuga. Entre elas:

  • O saudosismo, da infância, dos antes queridos, da pátria, etc.
  • O sonho, que permite a criança de um mundo pessoal povoado de situações e figuras idealizadas.
  • O gasto pelo pitoresco, associado ao medievalismo, ao indianismo, à natureza tropical, ao Oriente, às linhas desertas, às paisagens exóticas, etc.
  • A consciência da solidão, resultante de uma inadaptação ao mundo e da crença de que é um incompreendido, o que provoca ao artista a sensação de estar sozinho e o desejo de refugiar-se no seu eu.
  • O exagero, isto é, o apelo aos extremos, quando, o artista, na busca do mundo idealizado, excede nas figuras linguagem que utiliza para caracterizar a beleza, o amor, a tristeza, a bravura, a pureza, a bondade ou a maldade.

O exagero, somado à instabilidade emocional dos românticos e à ânsia de evasão, provocou o chamado “mal-do-século”, expressão que caracterizado estado de espírito de alguns românticos que se entregaram a uma excessiva melancolia e solidão e a um grande pessimismo que os conduz à exaltação da morte.

 

  1. Senso do mistério e gosto pelo noturno.

O sobrenatural, o mórbido, à noite e o ministério da existência estão sempre presentes na literatura romântica.

 

  1. Idealização da mulher.

Somente espiritualismo e temperamento sonhador, o romântico reveste a mulher de uma aura angelical, retratando-a como figura poderosa e inacessível.

 

  1. Sensualidade.

Apesar do espiritualismo e temperamento, a obra romântica reflete muitas vezes um sensualismo bem material na descrição feminina.

 

 

  • A produção literária do Romantismo brasileiro (Personagens lineares, estereotipado, previsíveis).

É rica e variada a produção literária do Romantismo brasileiro. Os principais gêneros cultivados formam a poesia, o romance e o teatro.

 

  1. O romance.

Entre os romancistas destacam-se:

  • Joaquim Manuel de Macedo: a Moreninha (1844); o moço loiro (1845); A luneta mágica (1869).
  • Manuel Antônio de Almeida: Memórias de um sargento de milícias (1854 - 1855).
  • José de Alencar: Cinco minutos (1856); O guarani (1857); A viuvinha (1860); As minas de prata (1862); Lucíola (1862); Diva (1864); Iracema (1865); O gaúcho (1870); A prata da gazela (1870); O tronco do ipê (1871); Sonhos d´ouros (1872); Til (1872); Ubirajara (1874); Senhora (1874); O sertanejo (1875); Encarnação (1877).
  • Bernardo Guimarães: O ermitão do Muquém (1869); O seminarista (1872); A escrava Isaura (1875).
  • Visconde de Taunay: Inocência (1872).
  • Franklin Távora: O cabeleira (1872).

 

 

 

  1. O teatro.
  • Martins Pena (o mais importante): O juiz de paz na roça (1832); A família e a festa da roça (1832); O Judas em sábado de aleluia (1846); Quem casa quer casa (1847); O noviço (1853).
  • Gonçalves Dias: Leonor de Mendonça (1847).
  • José de Alencar: O demônio familiar (1857); Mãe (1862).

 

 

 

  1. A poesia.

Costuma-se delimitar três momentos dentro da poesia romântica brasileira, cada um deles apresentando temas e visões de mundo singulares que correspondem à sucessão de três gerações de poetas. Embora cada uma delas possua características próprias, é bastante acentuada a interpenetração e a transferência de características de uma geração à outra.

 

GERAÇÃO

CARACTERÍSTICAS

PRINCIPAIS AUTORES

PRINCIPAIS OBRAS

PRIMEIRA GERAÇÃO

NACIONALISMO

  • Nacionalismo.
  • Aversão à influência portuguesa.
  • Indianismo.
  • Religiosidade e misticismo.
  • Temas: o índio, a saudade, a natureza, o amor impossível.
  • Influência de Chateaubriand e Lamartine.
  • Gonçalves de Magalhães.

 

 

 

 

  • Gonçalves Dias.
  • Suspiros Poéticos e Saudades (1836).
  • Confederação dos Tamoios (1846).

 

  • Primeiros cantos (1846).
  • Segundos cânticos (1848).
  • Últimos cantos (1851).
  • Os Timbiras (1857).

SEGUNDA GERAÇÃO

ULTRARROMÂNTICA

  • Individualismo.
  • Pessimismo.
  • Escapismo.
  • Aspecto doentio (mal-do-século).
  • Morbidez.
  • Noturnismo.
  • Temas da dúvida, do tédio, da orgia, da morte, da infância, do medo de amar e do sofrimento.
  • Influência de Byron e Musset.
  • Alvares de Azevedo.

 

 

  • Junqueira Freire.

 

  • Casimiro de Abreu.
  • Fagundes Varela.

 

 

 

  • Sousândrade

 

 

 

  • Lira dos vintes anos (1853).

 

  • Inspiração do Claustro (1855).
  • Primaveras (1859).
  • Vozes da América (1864).
  • Cantos Meridionais (1869).
  • Evangelho nas Selvas (1875).
  • Harpas Selvagens (1857).
  • Guesa (1858).

TERCEIRA GERAÇÃO

SOCIAL OU CONDOREIRA

  • Aprofundamento do espírito nacionalismo.
  • Liberalismo.
  • Poesia social e política.
  • Temas da escravidão, da república e do amor erótico.
  • Influência de Vitor Hugo.
  • Castro Alves
  • Espumas flutuantes (1870).
  • A cachoeira Paulo Afonso (1876).
  • Os Escravos (1883).

 

  • Estrutura narrativa baseada no esquema:

 

 

Modalidades do romance.

As modalidades de romance cultivadas no Brasil, no Romantismo, foram:

  • Folhetim – publicado com periodicidade regular, explora a intriga, o mistério, a aventura;
  • Urbano – retrata ambientes, cenas e costumes da burguesia (das cidades);
  • Histórico – o escritor busca no passado histórico os hábitos, costumes e instituição para reconstruir o clima da época, no qual seus personagens serão idealizados;
  • Regionalista – enfocam as paisagens e os costumes de determinadas regiões, às vezes com valor documental, outros excessivamente idealizados;
  • Indianista – focaliza o ambiente, a cultura e as tradições do índio brasileiro. Cria heróis nacionais tomados como símbolos e elementos formadores da nacionalidade.